4)Elementos da flora/fauna. A oiticica e o agave no
Nordeste.
A oiticica (Licania
rigida). Árvore das rosáceas, planta nativa do Nordeste Brasileiro. A oiticica
é uma árvore frondosa, exuberante, de grande porte, própria dos solos
profundos, que nasce nas várzeas dos rios temporários do sertão nordestino e na
microrregião do mato grande-RN. É provável que a oiticica se adapte a outras
áreas do Nordeste, desde que se obedeça às condições ambientais e de solo
requeridos por essa planta. O valor comercial está no óleo extraído de sua
amêndoa oleaginosa, com aplicação na indústria de lubrificantes e como
substrato na confecção de velas, ceras, impermeabilizantes, tintas, sabões. Seu
óleo industrializado tem combustão lenta e duradoura. A oiticica pode viver
mais de 100 anos, mas a aplicação desse óleo, na indústria, vem sendo
substituída por derivados de petróleo e também pelo óleo extraído de sementes
de maior produtividade. O fato é que as oiticicas existentes no Nordeste, todas
nativas, estão muito velhas e não compensa cultivá-las como planta de
extrativo. A oiticica foi poupada do machado nordestino porque proporciona,
devido a sua densa folhagem, um abrigo do Sol castigante do sertão. Não temos
notícia de sua presença em outras áreas do Brasil, mas poderia existir em todos
os cerrados.
Agave ou sisal. Também chamada de pita, piteira,
babosa-brava. Abecedário, croata; é planta nativa dos desertos e semiáridos das
Américas, mas não é brasileira e certamente não sobreviveria na caatinga
nordestina que é semiárido devido à escassez de solo e não por escassez de
água. O agave foi trazido para o Brasil nas décadas de 50 e 60, provavelmente
do México e de desertos da América do Sul. A planta é raízes, caule e folhas,
potencialmente celulose. Suas folhas podem atingir 2m de comprimento e 15cm de
largura, de onde se extrai as fibras para a confecção de sacos, sacolas,
esteiras, tapetes, forros, cordas e cabos e artesanatos: chapéus, calçado,
bolsas, roupas. O bagaço que resulta da extração da fibra da folha é celulose
para a produção de papel. A haste(ou pendão) que nasce no agave adulto é
celulose(o miolo) para a fabricação de papel e
aglomerado de madeira; reproduz-se de duas formas: brotamento nas raízes
e no pendão.
Zabelê, Touros-RN, já teve o maior plantio contínuo de
agave do Brasil, cerca de 11 mil hectares, alcançando o auge da produção na
década de 60, quando surgiram as fibras sintéticas náilon, rayon, que são mais leves, mais resistentes,
eficientes, eficazes com abrangência industrial inatingível pelas fibras do
agave. A celulose do agave também foi substituída na produção de papel. Hoje o
agave é cultivado em pequena escala nos Estados RN, PB e BA para a confecção de
cordas e artesanatos.
O agave é uma planta absolutamente agressiva e nociva
ao ambiente nordestino, atingindo o clímax, com domínio total, em uma
velocidade (de tempo) espantosa, uma praga que impede o desenvolvimento de
outras plantas no seu lugar (antissocial), concorrendo deslealmente com outras
plantas. Na década de 60 surgiu uma melodia que dar a ideia da nocividade do
agave; transcreveremos uma estrofe dessa melodia: nem q`eu possuísse terras com
cem léguas de extensão, e se um pé de agave me rendesse um milhão, eu não
plantaria nunca essa infeliz maldição, seu capa verde não me ilude não, não me
ilude não..O agave foi extinto há 30 anos em Zabelê, porém sua presença
maléfica deixou mazelas que afetam até hoje a produção agrícola dos assentados
do INCRA naquela fazenda. O desmatamento levado a afeito para o plantio do
agave em Zabelê se refletiu no clima de toda região do Mato Grande-RN, que já
foi o maior celeiro de alimentos do RN. Hoje, 80% dos alimentos consumidos no
RN vem de outros Estados do nordeste ou das Regiões Sudeste e Centro-Oeste.O
agave é, provavelmente, o único vegetal que não SERVE de alimento para o reino
animal, porque sua seiva é um ácido de alto poder corrosivo que destruiria qualquer célula
do corpo orgânico animal. Esse ácido circula por todo corpo do agave, inclusive
é lançado no chão, pelas raízes, como forma de manter a umidade do solo para a
coleta de nutrientes minerais. O ácido é disperso no chão pela infiltração de água
das chuvas contaminando todo o terreno, de modo que outras plantas não
conseguirão sobreviver nesse ambiente. A ação desse ácido pode durar dezenas de
anos.
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