As sandálias novas fazem a diferença no
Brasil desequilibrado, no tempo e no espaço.
Hoje, para quem nasce no interior do Nordeste, de
família pobre, é muito diferente do que há 50 anos; naquele tempo a
sobrevivência do nordestino da zona rural dependia exclusivamente da terra –
agropecuária; as secas eram menos freqüentes e o índice pluviométrico era
maior. Hoje o nordestino na zona rural, e das favelas das Capitais sobrevive com
a aposentadoria do Funrural paga mensalmente a velhos e inválidos – são 6 e até
15 pessoas dependendo de uma aposentadoria de um salário mínimo; não é muito,
mas dá “pro comer”. No meu tempo de criança/adolescente era mais difícil.
Exemplo: eu e meus irmãos ganhávamos uma parelha de roupas (calça e camisa) e
um par de sandálias, cada um, perto da festa do Natal, quando meu pai vendia o
algodão produzido no seu “roçado”; todos os anos havia produção de algodão,
chamado ouro branco, mas nos anos de seca
(até 300mm de chuvas ao ano) a safra de algodão era pequena e só dava
para pagar a bodega, o barracão (mercearia), onde comprávamos fiado, para
comer, o ano todo. Neste caso não havia roupa, nem sandálias, nem Natal.
Morávamos no sítio a 20 ou 30
km da sede do município (a cidade); nas festas do natal
e fim-de-ano íamos do sítio para a cidade nos dias 24 e 31 de dezembro; a roupa
e as sandálias, novas, iam nas mãos de cada um ou em uma bolsa coletiva; as
vezes íamos descalços (não havia outro jeito); a indumentária nova só seria
usada quando chegássemos à cidade; em
uma dessas jornadas um vizinho nosso tropeçou em uma pedra do caminho (levou
uma topada, como se diz por aqui), esfolando o dedão do pé direito; sentado no
chão, enquanto amarrava um pano no ferimento, ele dizia: foi bom, pior seria se
fosse nas minhas sandálias novas.
Educação Ambiental Científica também é literatura, também é ciência social - dsoridem.blogspot.com. Transcrito do Informativo O Veredicto, desta mesma Fonte Didática e Metodológica para a Ecologia e o Meio Ambiental - FEMeA.
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